Marcelo Esteves, 2020

Eu escrevo e ensino. Minhas carreiras de roteirista e de professor de roteiro foram se construindo quase simultaneamente, e hoje acho que se encontram indissociáveis.

Em 1997, fui para o Uruguai estudar cinema com a diretora Beatriz Flores. Em 2000, comecei a trabalhar profissionalmente como roteirista na TV-i, em Florianópolis; e, em 2003, iniciei minha carreira de professor universitário no curso na UNISUL.

Como professor, trabalhei em instituições de porte e missão muito diferentes, o que contribuiu para minha formação em docência. Como roteirista, estou sempre aprendendo com diretores a quem devo emprestar minha habilidade de transformar desejos em palavras que por sua vez se transformarão em imagens.

Em 2008, me aproximei da administração escolar ao ser convidado para compor o colegiado de professores do curso de cinema da UNISUL. Iniciava uma nova área de atuação: o trabalho com a coordenação acadêmica. Combinar as expectativas, muitas vezes distintas, de alunos, professores e instituição é sempre estimulante. Trabalhar para conciliar as perspectivas e potências dos projetos pedagógicos à realidade administrativa e financeira das escolas e universidades é desafiador.

O trabalho como roteirista não me permite o exílio de um escritor. Como coordenador e professor estou sempre cercado de pessoas. O que é bom, pois sou dado a exílios voluntários. Gosto de observar as gentes, pois ao fim e ao cabo é sobre elas que escrevo, e são seus gestos, atitudes e palavras que compõem o combustível do qual meu trabalho se alimenta.

Sou um homem de gatos, não de cachorros. Falo bastante, mas preciso de silêncios. Prefiro vinho a cerveja. Lugares exercem enorme influência sobre meu estado de espírito. Aos dezenove anos comecei minha ciranda de cidades. Petrópolis, Santa Maria, Montevideo, Florianópolis, Rio de Janeiro. Sempre me pergunto a qual espaço eu pertenço. Não sei. Como canta Jorge Drexler “Hay gente que es de un lugar. No es mi caso. Yo estoy aquí de paso”.